Na trajetória estabelecida pelo grupo até então, alguns princípios de linguagem e processo criativo serviram como base para a elaboração dos próximos passos em direção aos objetivos da companhia.
A partir do mergulho no pensamento e linguagem do “Teatro Pânico”, surgem os novos alicerces para trabalho: a busca de novas platéias, a relação com o espaço público, a reflexão sobre o comportamento social da população nas cidades e a atuação artística intervindo diretamente na urbe. Por meio de ações conjuntas e inter-relacionadas, pesquisa histórica, urbana, dramatúrgica e interpretativa, debates e laboratórios de ensaio, pretendem-se realizar a investigação cênica para a composição do espetáculo, “Pânico na cidade – cortejo pelos centros” com a intenção de sacudir, inquietar, chacoalhar e despertar a consciência a respeito das relações tanto sociais quanto espaciais e temporais nos cidadãos referente ao espaço público da cidade.
A escolha pelos centros urbanos das cidades, além de permitir a participação de um público heterogêneo, de distintas classes sociais, é fundamental, pois permite que o espectador estabeleça uma nova relação com o espaço proposto para a representação. Por exemplo, a impressão que grande parte da população tem a respeito do centro de São Paulo é que trata-se de uma área suja e degradada, praticamente abandonada e inóspita onde a violência, a prostituição e o trafico de drogas invadiram e tomaram conta.
Além dessa falsa impressão a respeito dessa região, é fundamental expor o constante esquecimento da história da cidade. Fato é que temos que concordar com a afirmação do arquiteto Benedito Lima de Toledo, que coloca que São Paulo é palimpsesto, um imenso pergaminho cuja escrita é raspada de tempos em tempos, para receber outra nova, de qualidade literária inferior, no geral. Uma cidade que por diversas vezes é reconstruída sobre si mesma. Os lugares históricos por onde passará o cortejo com, a apresentação, facilitará e permitirá este contato.
Percebe-se que processo semelhante está ocorrendo em cidades com grandes concentrações populacionais, o que reforça a escolha por estes espaços.